IMPLICAÇÕES SÓCIO EDUCACIONAIS DO ARTESANATO EM ORIXIMINÁ

O programa de extensão envolve o inventário do artesanato tradicional de Oriximiná, cidade localizada na região conhecida como “Baixo Amazonas”, no oeste do Pará. Desde 2008, a equipe de pesquisadores (professores de várias áreas e graduandos do curso de Produção Cultural do Polo Universitário de Rio das Ostras), coordenada pela Prof. Adriana Russi e o Prof. Gilmar Rocha vem realizando várias etapas, com parcerias interinstitucionais. O programa prevê como desdobramento, a formação continuada dos educadores locais, como meio de fortalecer as ações pautadas na Educação para o Patrimônio como meio de preservação do patrimônio imaterial local.

 

 

ETAPAS REALIZADAS

AGOSTO DE 2008

Num primeiro momento fizemos levantamento das características da cultura material e imaterial local. Na segunda etapa, já em campo, oferecemos uma atividade de sensibilização focada na questão da preservação do patrimônio. Partimos da experiência direta de alguns bens patrimoniais e de sua compreensão e valorização empregando a metodologia da Educação Patrimonial. Participaram da sensibilização 18 adultos (professores, universitários e agentes culturais locais) com carga horária de 15 horas. Além desta atividade, foi realizado um encontro com o Secretário de Cultura local e alguns profissionais da área de Educação e Cultura para apresentação do Programa.

2008/2009

No período entre as etapas de campo, a Prof. Adriana Russi realizou duas visitas à Oriximiná com o objetivo de estabelecer parcerias para o fortalecimento e reconhecimento das ações previstas no programa. Por ocasião de uma das visitas, participou de uma conferência de educadores locais onde pode apresentar as propostas, garantindo, assim, o sucesso das etapas seguintes.

JULHO DE 2009

A Prof. Adriana Russi coordenou e organizou a equipe que participou do mapeamento preliminar do artesanato local. A partir de uma expedição in loco, foram visitadas 14 comunidades: indígenas, quilombolas, ribeirinhas, rurais e urbanas. Visitas ao Alto Trombetas – Aldeias Kaxuyana e Waiwai (indígenas), Cachoeira Porteira (quilombolas); Médio Trombetas – Boa Vista Cuminã (quilombolas), Salgado I, II e III, Terra Santa, Lago Sapucuá (ribeirinhos); Baixo Trombetas – Erepecuru e Cachoery (ribeirinhos); Região do Planalto (produtores rurais) – Seneuaua, Bec; Área urbana – fócus group (Associação das Mulheres, ADMO e Associação dos Artesãos). Foram entrevistados na ocasião, 43 pessoas (líderes comunitários, professores e artesãos). A partir dessas visitas, foram produzidos um folder com os resultados do mapeamento e um vídeo institucional para divulgação do programa.

JANEIRO DE 2010

A partir do mapeamento preliminar foram iniciados os trabalhos de campo, com a previsão de visitas às comunidades indicadas por comunidades distintas. Nesta etapa de Janeiro, foram visitadas a comunidade quilombola de Cachoeira Porteira e a Aldeia Santidade, dos índios Kaxuyana. O material colhido em campo (fotos, relatórios de entrevistas, vídeos) foi utilizado na etapa seguinte e fará parte do inventário final e da produção de material de apoio didático para os educadores locais;

JULHO DE 2010

Nesta etapa a equipe visitou as Comunidades Quilombolas: Abuí, Paraná do Abuí, Mãe Cué, Sagrado Coração e Tapagem, as Aldeias Indígenas: Tawanã (Waiwai) e Santidade (Kaxuyana), além de um retorno à Cachoeira Porteira para complementação de dados para o inventário.

Como parte integrante desta etapa, a equipe organizou, sob a coordenação da Prof. Adriana Russi, uma Oficina de Educação e Patrimônio Cultural. A oficina aconteceu como resultado da parceria com a Prefeitura Municipal de Oriximiná, em especial com a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Cultura e contou com professores da Educação Quilombola e Indígena.

O ponto de partida escolhido para nortear a oficina foi o tema “A Escola como espaço de partilha do cotidiano”. A partir de relatos sobre a trajetória das alterações na legislação da Educação, que trata das questões referentes ao Patrimônio Imaterial e Diversidade Cultural, os professores participantes puderam refletir a respeito de suas práticas docentes.

Durante toda a oficina foram propostas atividades teóricas e práticas que proporcionaram aos participantes a oportunidade de discutirem a respeito de suas dúvidas com relação ao conceito de Patrimônio e repensarem suas práticas no cotidiano escolar com ênfase na diversidade de manifestações culturais existentes em suas comunidades.

A oficina teve a duração de dois dias com participação de 63 professores das comunidades quilombolas e indígenas. Organizados em grupos de diferentes comunidades, os professores tiveram oportunidade de conhecer um pouco mais sobre aspectos culturais uns dos outros, o que ratificou nosso discurso sobre a diversidade cultural. Muitos professores não conheciam a realidade de outros e a troca foi muito proveitosa. Eles puderam entender, na prática, que a função social da escola não se limita a ensinar conteúdos, mas a proporcionar formação às pessoas por meio de circulação de valores, ideias, crenças, preceitos morais e éticos, numa promoção de atitudes que levem em conta uma melhor relação dos cidadãos com o patrimônio que faz parte de sua vida. A valorização do patrimônio cultural do Brasil implica o reconhecimento da diversidade de padrões culturais que caracterizam a convivência social na escola.

Ao final da oficina, foram propostas atividades para as diferentes áreas do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Só preservamos aquilo que conhecemos. Entre os instrumentos de preservação do patrimônio destacam-se as ações educacionais voltadas para a Preservação do Patrimônio Cultural. Colocar no cotidiano escolar exemplos da cultura e tradição local são estratégias que podem auxiliar no sentido de pertencimento do aluno à sua comunidade, valorização dos saberes dos mais velhos, participação da comunidade no dia a dia da sala de aula.

Para alcançar a multiplicação das ideias e conceitos propostos no campo da educação sobre o patrimônio cultural é importante a formação daqueles que irão desenvolver este trabalho nas escolas, nas associações de bairros ou em qualquer espaço ou grupo social que se pretenda sensibilizar.

Nosso Programa de Extensão prevê a possibilidade de elaboração de estratégias próprias nas Unidades Escolares oriximinaenses para que os alunos/sujeitos e a comunidade de entorno participem desse processo.

Não cabe uma ação e/ou programa pensado em gabinete, imposta às diferentes realidades. É imprescindível o diálogo também com o próprio projeto pedagógico da escola. Só a partir disso, é possível desdobrar tal experiência em programas e políticas de preservação do patrimônio cultural em nível municipal que precisa ser construído coletivamente.

A legislação municipal de Oriximiná/PA, em seu Plano Diretor, ampara esse processo. A Universidade Federal Fluminense, através de sua Unidade Avançada José Veríssimo, é parceira do município de Oriximiná na elaboração e implementação de ações para a valorização do patrimônio cultural brasileiro e sua preservação no âmbito da própria comunidade, como elemento central de sua identidade.

Sonia Maciel

Graduanda – Produção Cultural – PURO/UFF

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